Divagando Devagar

Divagações ocasionais de uma mente reflexiva.

Sobre a violência sexual – Não, é não. 28 maio, 2016

Filed under: Rotineiras,Tormentas — INEFFABILE @ 10:09 pm

Andava a concatenar pensamentos e palavras nos últimos dias para escrever um texto sobre violência sexual em meu blog. Queria escrever sobre o que senti e sinto a respeito desta tal “Cultura do Estupro”. Nem sabia que havia um nome para esta tragédia social. Queria escrever sobre o impacto que a notícia do estupro coletivo da menina de 16 anos, no Rio de Janeiro, deixou em mim.

Já vi que tem gente de saco cheio do assunto nas redes sociais. Tem gente mudando de assunto, continuando a reclamar da corrupção no Brasil, fingindo que nada aconteceu, discutindo futebol ou compartilhando memes para reflexão.

Eu parei no tempo. Permaneci na tristeza de dois dias atrás. Permaneci com o mesmo sentimento de derrota, de fraqueza mesmo, que senti ao ler a notícia.

A cada texto e compartilhamento sobre o assunto, meu sentimento é de cansaço e de absoluta repugnância. Às Vezes, a sençação é de perda. E a pergunta que não quer calar é: o que fazer?

Esse medo é velho; o medo da violência sexual.

Sabe quantas vezes eu desisti e tenho certeza de que ainda desistirei de noitadas, viagens e muitas outras atividades só porque estive ou estaria sozinha por aí?? Mas a real razão por trás destas minhas escolhas é simplesmente uma: sou mulher. E como disse James Brown: “This is a man’s world”. Complemento a letra de sua canção: este é um mundo dos homens, onde mulheres são violentadas independente de credo, raça, idade, ou condição física ou social, todos os dias.

Qual mulher não teme ser estuprada ou abusada sexualmente? Qual??? E vou além: qual mulher não sofreu algum tipo de abuso sexual na vida?

Eu sofri. Como exemplo, cito o dia em que um terapeuta holístico se sentiu no direito de tocar em partes íntimas de meu corpo durante uma sessão de realinhamento de chakras. Homem deplorável.

O caso da garota carioca me fez lembrar do estupro da moça indiana de 23 anos há cerca de quatros anos, em Nova Delhi, onde 6 homens a violentaram dentro de um ônibus. Poucos dias depois, a moça veio a falecer em decorrência dos ferimentos.

Lembrei também da outra moça indiana, de 28 anos de idade, que foi violentada dentro de um ônibus e morta por dois homens diante da filha de três anos.

Lembrei da menina de apenas três aninhos de idade que foi violentada em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Da amiga francesa que foi a Istambul e lá pegou um ônibus com uma colega de trabalho. As duas foram intimidadas e tocadas por vários homens nojentos, sem poderem fazer nada por medo de agressão pior.

Da amiga brasileira que foi passear no Irã e lá quase foi apedrejada por vestir uma bermuda que revelara seus tornozelos.

Da colega que foi estuprada na Bahia, que engravidou do estuprador, fez um aborto clandestino e quase morreu vítima de uma carnificina médica.

Da aluna de uma amiga que foi estuprada há cerca de um ano e que veio a cometer suicídio há poucos dias.

Lembrei também de minha mãe, assim como de todas as mãe que conheço, que nunca deixou meu irmão pequeno ir a um banheiro masculino sozinho. Meus filhos também não vão.

Minha mãe também não me deixava ir ao botequim na esquina perto de casa para comprar pão sozinha. Mesmo sendo criança na época, eu ainda me lembro, com profundo nojo e horror, sobre como me sentia envergonhada e intimidada pelos olhares dos homens que lá estavam. Eles pareciam analizar o meu corpo de menina.

E como lembrei de minha irmã que uma vez me disse muito segura de si: “prefiro morrer do que ser estuprada!”.

São tantas as lembranças! São muitos os casos que ocorreram comigo, com minhas amigas, conhecidas, conhecidos… São tantas as notícias nos jornais todos os dias… Parece ser algo tão comum!

E me ocorre dizer que, talvez esta tristeza chamada violência sexual seja uma pandemia mesmo. Mas não é uma doença; não, não é. É algo pior: é pura malevolência. É mal e mau d’alma.

Tem muita gente – homens e mulheres – que dizem que feminismo é ‘mimimi’. À estas pessoas o meu profundo desprezo, pois são altamente egoístas e ignorantes. São pessoas que vivem fora da realidade por escolha própria, além de saberem bulhufas de história.

Voltando à minha pergunta: o que fazer? Bem, eu não sei. Acho de importância imprescindivel discutir abertamente sobre o assunto, colocar pressão seja onde for! Se quase todo mundo tem Facebook ou faz parte de alguma rede social virtual, então que informações úteis possam circular através destes meios de comunicação.

Mas é nas ruas, gente, nas casas, nas escolas, nos trabalhos que a pressão contra esta atrocidade deve se fazer presente em todos os momentos e que venha a produzir resultados. Que criminosos e cúmplices sejam punidos, que vítimas tenham vozes e que a cultura do estupro, tão presente no globo terrestre, seja destruída de uma vez por todas!

Eu faço a minha parte aqui. Faça você também a sua, pela honra e dignidade de todas as vítimas de crimes sexuais de todos os sexos, idades e nacionalidades.

Não, é não.

 

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