Divagando Devagar

Divagações ocasionais de uma mente reflexiva.

Que a Paz Prevaleça na Terra, Sempre 3 março, 2014

Filed under: Úbere,Reflexão da Semana — INEFFABILE @ 11:37 am

Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

 

Eu me amo 10 março, 2010

Filed under: Úbere — INEFFABILE @ 2:45 pm

Há quanto tempo eu vinha me procurando
Quanto tempo faz, já nem lembro mais
Sempre correndo atrás de mim feito um louco
Tentando sair desse meu sufoco
Eu era tudo que eu podia querer
Era tão simples e eu custei prá aprender
Daqui prá frente nova vida eu terei
Sempre a meu lado bem feliz eu serei

Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim

Como foi bom eu ter aparecido
Nessa minha vida já um tanto sofrida
Já não sabia mais o que fazer
Prá eu gostar de mim , me aceitar assim
Eu que queria tanto ter alguém
Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém
Longe de mim nada mais faz sentido
Prá toda vida eu quero estar comigo

Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim

Foi tão difícil prá eu me encontrar
É muito fácil um grande amor acabar , mas
Eu vou lutar por esse amor até o fim
Não vou mais deixar eu fugir de mim
Agora eu tenho uma razão pra viver
Agora eu posso até gostar de você
Completamente eu vou poder me entregar
É bem melhor você sabendo se amar

Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim

Por Ultraje a Rigor

🙂    🙂    🙂    🙂    🙂

 

Para Aline 18 novembro, 2008

Filed under: Úbere — INEFFABILE @ 12:35 pm

Eu te li e sufoquei em mim, primeiro, um sentimento. Mas eis que as palavras começaram a pular e meus dedos a segui-las, buscando-as, e tornou-se irresistível arrumá-las, por uma necessidade fisiológica da minha alma, mesmo, preciso voltar a ardê-la, senão termina por se apagar, e apago. E ainda é cedo, muito cedo! Começaram com uma frase: Sigo teu olhar e ele me leva, enleva e eleva.

Talvez, mesmo, não valha a pena sem que assim o seja, não basta saciar-se com uma presença que nos é alheia, é preciso senti-la como algo que nos é próprio, por um estar sem esforço, permanecer por encanto, num movimento rítmico e harmonioso de peles e ânimos, poesia do encontro.

Isto, no entanto, parece ser para poucos, muitos, e excessivamente, rendem-se ao costume, que se revela medo, e da solidão, ou de tudo que possa representá-la. Poucos são os que estão dispostos a viver sob o risco da liberdade, ser verdadeiro consigo e amar segundo esta verdade.

Eu mesmo tenho meus receios, penso que como todos nós, humanos, mas, ainda assim, sigo, às vezes a significativo custo, o que me alenta, mantém-me vivo na condição do vir-a-ser, embora que por vezes me seja só uma fantasia a povoar meus olhos, uma música a ouvir das estrelas… sim, preciso para respirar o amor… de um olhar que me leve, enleve e eleve.

 

Por Silvio Gurjão

 

Sobre o Caminho 11 setembro, 2008

Filed under: Úbere,Reflexão da Semana — INEFFABILE @ 1:17 pm

Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si ou pra os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. (…) Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias… Então, faça a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma.”

 

Por Carlos Castañeda em “A Erva do Diabo

 

Crônica da boa noite: um poema antes de dormir 6 setembro, 2008

Filed under: Úbere — INEFFABILE @ 8:29 am

 

Não guardo livros no quarto de dormir. Dois motivos principais norteiam essa minha implicância: primeiro o bolor que o papel conserva me transmite incômodos à respiração, que como em todo alérgico, entope o nariz, causa espirros, dificulta o sono; o segundo motivo é menos biológico e bem mais filosófico, ao dormir na companhia de teoria, teses, epistemes, métodos e filosofias, a mente não descansa, o músculo cerebral não relaxa, o corpo não se acomoda, não adormeço. Entretanto, felizmente há uma cômoda e elegante exceção, apenas consigo dormir tranquilamente quando leio antes de deitar, pelo menos um poema. Essas letras, contrariando aquelas, acompanham minha noite com sonhos, rimas, reflexões, amores e boniteza.

Os filósofos e suas questões, não que me desagradem, ao contrário, os admiro com respeito, rigor e transpiração, mas lê-los ao dormir atiça minha parca concentração, dificultando a entrada no estado de sono, aquele que você sente se distanciando de si e ao mesmo tempo entrando no próprio corpo. Já os poetas e suas criaturas deixam-me em elegia e contemplação, de tal modo que o sono passa a não importar mais, porém ao mesmo tempo em que a alegria invade o espírito e mesmo que a poesia proponha uma reflexão, sua forma por se confundir com seu conteúdo basta-me para proporcionar a tranqüilidade da quietude necessária ao sono.

Ler um poema é uma questão de extrema necessidade antes de deitar para dormir. Palavras sim, sei, não mais que apenas palavras, mas em forma de poesia; elas, somente elas, desnudam musas, filmam lugares jamais habitados, beijam bocas distantes, fazem os cílios tocarem bicos de seios como se fossem mamadeiras, enverdessem a seca, cavalgam entre anjos negros com azas de anil, carregam para si o agigantamento dos pequenos, enriquecem os pobres, desprezam os poderosos… “Estou quase a sonhar que durmo, preciso acordar para ver se te esqueço”.

Às vezes ao acordar durante a noite para urinar, beber água, ou apreciar o sono de meus filhos, ando pelo quarto cuidadosamente, mas acabo tropeçando nas flores que me traz Florbela Espanca, caio inevitavelmente nos braços brancos e içados à frente de Carlos Drummond de Andrade, viro para o outro lado e lá está Augusto, que tem anjos até no nome; levanto-me com o apoio da pessoa de Fernando a declarar seu grande amor a quem está de seu lado esquerdo: Walt Whitman, ao lado direito do português, Borges diz a Neruda que não o ama com a mesma precisão, mas repete que viver não é preciso; mais à frente, próximo à porta do banheiro, Arthur Rimbaud dança como se fosse um saltimbanco, procurando agradar Leminsk e provocar Rilke, Cecília Meireles dá motivos de sobra para acabar com a pendenga e me obriga a virar para o outro lado, onde encontro Victor Hugo sentado no colo de Adélia Prado, ela fala das árvores do mundo, mas é o ouvinte desse diálogo que me fixa a visão: Vinicius de Moraes que ao perceber meu olhar, canta às mulheres procurando acalmá-las pelo sumiço eterno de Zé da Luz, anunciado por Chico Pedroza; Machado de Assis que me parece ser afeiçoado a uma boa prosa, para meu espanto, aparece e solicita que eu diga a Djavan que antes de seu coração ser uma ilha a centenas de milhas daqui, os olhos de Capitu já adquiriam importância maior que as estrelas por estarem ao alcance das mãos; Brecht alerta que o quarto já não é tão escuro, enquanto Torquato afirma, “pra mim chega”; contudo, quando o bem-te-vi que mora no coqueiro, avisa que o dia chegou, é Patativa quem me acalma com sua voz de passarinho; insisto em permanecer na festa, mas o toque mecânico de algum aparelho eletrônico determina que não é a filosofia e nem a poesia e sim o dia que chegou e, portanto, preciso levantar sem poetas ou filósofos para encarar o cotidiano, não o de Chico Buarque: o meu.

 

Por Deribaldo Santos
Quixadá, Novembro de 2007, durante a greve dos professores e estudantes da UECE.

 

Eros e Psique 2 setembro, 2008

Filed under: Úbere — INEFFABILE @ 12:54 pm

 

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

 
Por Fernando Pessoa

 

A MPB se marca e se renova com seus espelhos 23 julho, 2008

Filed under: Úbere — INEFFABILE @ 2:52 pm

 

Um amigo português, admirador da música brasileira, certa vez perguntou-me em tom quase afirmativo por que a nossa música não está se renovando. Sem pestanejar, neguei a quase afirmativa. Mas, como meu interlocutor conhecia com alguma profundidade a MPB, minha negação precisava ser mais acesa e rigorosa.

Confesso que há mais de um ano guardo essa inquietude comigo. Por algumas vezes pensei em escrever ao amigo apresentando uma justificativa mais sistemática sobre sua indagação, outras vezes iniciei algo; porém padeci da falta de inspiração e ou de disposição para compor a resposta.

O ócio me trouxe a reflexão: de férias, resolvi viajar para o Rio de Janeiro, cidade que já foi morada minha por quase duas décadas e que há seis anos não visitava, guarda parentes e amigos ‘caros’. Confesso, não entendo mais a dinâmica do Rio com profundidade para uma análise, mas, atrevo-me a falar do show do sambista Diogo Nogueira, que tive a oportunidade de assistir por lá, amostra e prova da renovação da MPB.

A nossa música tem como marca a capacidade de absorver o novo para si depois que ele não é mais novidade, ou seja, para se alimentar do que surge, ela precisa antes destruir algumas características revolucionárias do que está emergindo os tornando aceitáveis aos ouvidos acostumados com o padrão estabelecido: renova-se ao mesmo tempo em que se conserva.

Tal fenômeno correu com a Tropicália e com o Manguebeat. A MPB consegue converter em imagem e semelhança até a sua parte de ritmos considerados “bregas” como o sertanejo, o pagode, o forró, o funk carioca e outros. A música eletrônica, por exemplo, enfrentou e enfrenta dificuldades de ser aceita pela estética da MPB, mas artistas como Zeca Baleiro e Lenine a utilizam vastamente. Sobre essa questão, podemos ainda expor os exemplos do grupo O Rappa e do cantor Marcelo D2, que já são figuras carimbadas da nossa marca musical abusando do sincretismo eletrônico com o tradicional.

Voltemos agora para Diogo e seus contemporâneos que surgem como as novas promessas de vigor da música brasileira. Depois de Maria Rita Mariano e seu irmão Marcelo Mariano, filhos de Elis Regina e de César Camargo Mariano, muitos são os nomes com sobrenomes famosos que alinham suas vozes pelos espaços da mídia tupiniquim. Não pretendo lembrar de todos e todas, pois são muitos. Os que mais me chamam a atenção são: os irmãos Wilson Simoninha e Max de Castro, filhos de Wilson Simonal; Jarzinho de Oliveira e sua irmã Luciana Mello, filhos de Jair Rodrigues; Leo Maia, filho de criação de Tim Maia; Luiza Possi, filha de Zizi Possi; os filhos e filhas de Gonzaguinha já se iniciaram na carreira artística; uma das filhas de Paulinho da Viola prepara sua estréia dentre muitos outros e outras.

Extensíssima também é a lista dos talentos que não carregam o peso de um sobrenome célebre nas costas, que serve para provar como nossa MPB se (re)faz: Céu, Mariana Aydar, Fabiana Cozza, Kléber Albuquerque, Isabela Otaviani, Seu Jorge, Tereza Cristina, Roberta Sá, entre inúmeros cuja lembrança e papel não comportam agora. Ao ler essa análise, meu camarada além mar deverá se perguntar se não vou citar os nomes dos não-iluminados pela mídia. Não! Esses, em nosso continental país deixam rastros que ora não posso rastrear. Imagina como deve ter coisa boa sendo produzida, por exemplo, em Belém, em Cuiabá, em Aracaju etc. Mesmo assim, caso eu insistisse e reproduzisse aqui os que tenho acesso, preencheria várias linhas e esse não é o objetivo.

Sobre Diogo Nogueira, preciso afirmar que como Maria Rita, não precisa do sobrenome para se firmar como ‘marca’ da MPB. Seu trabalho é consistente. Figura muito simpática como identidade, além de compor e cantar muito bem. Os fatos dizem de sua condição: ganhou por duas vezes consecutivas o concurso de samba enredo do carnaval de 2006-7 da Portela, prêmio que seu pai nunca conquistou.

Como sambista, afirma querer seguir os passos do pai João Nogueira. E demonstra isso no ponto alto de seu show: a interpretação da canção Espelho, composta por seu pai em homenagem a seu genitor e avô paterno de Diogo. Quando num instante abre-se um telão no final do palco, onde João Nogueira acompanhado por um violão canta as duas primeiras estrofes da música; Diogo, sentado em um banco, olha para o vídeo como se observasse a própria imagem em um espelho. Em seguida, assume a interpretação e canta: Mas eu sei que lá no céu/ o velho tem vaidade/ E orgulho de seu filho ser igual seu pai/ Pois me beijaram a boca/ E me tornei poeta/ Mas tão habituado com o adverso/ Eu temo se um dia me machuca o verso/ E meu medo maior/ É o espelho se quebrar.

Para mim, homem que avança pelos 40 anos de existência sem ter visto o próprio pai e que tem um filho adolescente que não mora consigo e ‘degusta’ uma relação com altos e baixos, assistir aquele espetáculo sem sentir grande emoção foi impossível. A saída foi pressionar a ponta do dedo indicador contra o nariz procurando impedir que as lágrimas manchassem o ‘meu’ espelho. Racionalizei, recompus a serenidade e resolvi escrever ao meu amigo português.
                          

Por Deribaldo Santos
Junho de 2008

 

Trecho de O Pequeno Príncipe 21 julho, 2008

Filed under: Úbere,Reflexão da Semana — INEFFABILE @ 6:44 pm

O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante…

– Bom dia – disse o príncipe.

– Bom dia – disse a flor.

– Onde estão os homens? – Perguntou ele educadamente.

A flor, um dia, vira passar uma caravana:

– Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.

-Adeus – disse o principezinho.

-Adeus – disse a flor.

O pequeno príncipe escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que batiam no joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. “De uma montanha tão alta como esta”, pensava ele, “verei todo o planeta e todos os homens…” Mas só viu pedras pontudas, como agulhas.

– Bom dia! – disse ele ao léu.

– Bom dia… bom dia… bom dia… – respondeu o eco.

– Quem és tu? – perguntou o principezinho.

– Quem és tu… quem és tu… quem és tu… – respondeu o eco.

– Sejam meus amigos, eu estou só… – disse ele.

– Estou só… estou só… estou só… – respondeu o eco.

“Que planeta engraçado!”, pensou então. “É completamente seco, pontudo e salgado. E os homens não têm imaginação. Repetem o que a gente diz… No meu planeta eu tinha uma flor; e era sempre ela que falava primeiro.”

Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens.

– Bom dia! – disse ele.

Era um jardim cheio de rosas.

– Bom dia! – disseram as rosas.

Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.

– Quem sois? – perguntou ele espantado.

– Somos as rosas – responderam elas.

– Ah! – exclamou o principezinho…

E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ele era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!

“Ela teria se envergonhado”, pensou ele, “se visse isto… Começaria a tossir, simularia morrer, para escapar ao ridículo. E eu seria obrigado a fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela seria bem capaz de morrer de verdade…”

Depois, refletiu ainda: “Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Uma rosa e três vulcões que não passam do meu joelho, estando um, talvez, extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito poderoso…”

E, deitado na relva, ele chorou.

E foi então que apareceu a raposa:

– Bom dia – disse a raposa.

– Bom dia – respondeu educadamente o pequeno príncipe, olhando a sua volta, nada viu.

– Eu estou aqui – disse a voz, debaixo da macieira…

– Quem és tu? – Perguntou o principezinho. – Tu és bem bonita…

– Sou uma raposa – disse a raposa.

– Vem brincar comigo – propôs ele. – Estou tão triste…

-Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.

– Ah! Desculpa – disse o principezinho.

Mas, após refletir, acrescentou:

– Que quer dizer “cativar”?

– Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?

– Procuro os homens – disse o pequeno príncipe. – Que quer dizer “cativar”?

– Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?

– Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?

– É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. Significa “criar laços”…

– Criar laços?

– Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…

– Começo a compreender – disse o pequeno príncipe. – Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…

– É possível – disse a raposa. – Vê-se tanta coisa na Terra…

– Oh! Não foi na Terra – disse o principezinho.

– A raposa pareceu intrigada:

– Num outro planeta?

– Sim.

– Há caçadores nesse planeta?

– Não.

– Que bom! E galinhas?

– Também não.

– Nada é perfeito – suspirou a raposa.

 

Por Antoine Saint-Exupéry

 

Amar! 12 junho, 2008

Filed under: Úbere — INEFFABILE @ 3:25 pm

Aos amantes e apaixonados pela vida, um presente de Dia dos Namorados:

 

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e a toda gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se poder amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder… para me encontrar…

 

Por Florbela Espanca
(Do livro Charneca em Flor)

 

Coisas que sobram 2 junho, 2008

Filed under: Úbere — INEFFABILE @ 10:24 pm

Ela levou tudo que eu tinha
Não deixou nada
Carregou os potes de mantimentos
E dentro
Sal, pimenta, cominho e coentro

Da parede retirou os quadros
Os livros do armário
As pobres imagens do santuário
Do quintal foram empilhados jarros, plantas e roupas do varal
Não ficou nada
Calcinhas, camisas, lençóis nem fraudas

Não poupou a panela de pressão
Muito menos o fogão e o botijão
A televisão foi a primeira que sumiu
Achando pouco
Como maldade derradeira
Pegou até a geladeira

Deixou muita coisa que não cabe em nenhum caminhão
Minha poesia que jamais considerou elegante 
Ficou como sobra para alimentar o cão
Esqueceu de se preocupar com o mais importante
Minha companhia e minha paixão
Que se perderam como migalhas pelo chão.

 

Por Deribaldo Santos
Junho de 2008