Divagando Devagar

Divagações ocasionais de uma mente reflexiva.

Poema do Adeus 10 março, 2017

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 7:50 pm

Foram muitos os abraços apertados de boas vindas,
Com alegria sincera nos olhos.

Entre rendas e pinturas,
Crochet e tricot,
Miçangas coloridas e bordados.
Uma vida com artesanato e talento.

Entre vatapás e carurus,
Moquecas de arraia e de tucunaré,
Ensopados de frango, feijão mulato com temperos especiais,
Arroz branco cozido e escorrido.
A cozinha era extensão de sua arte.

Sinto o cheiro de sua casa
E observo cada cômodo
Sem sequer estar presente.
Memórias de minha infância feliz, e agora longínqua.

Entre divindades e santidades,
Um altar de orações.
Os tacos de madeira que faltam,
As rendas que abundam
E os móveis que datam décadas.

No quintal, o tanque das piabas e o cágado tímido,
O cão inquieto e o gato preguiçoso,
As plantas felizes e frondosas do jardim
O caminho até a sala de jantar.

O sotão que era seu canto
E que tão pouco visitei.
O portão grande da frente
E a porta de madeira dos fundos
Que para abrir bastava puxar um arame.

A casa que conheci moderna,
Que resistiu ao Paraguassu,
Mas sucumbiu ao tempo.
A casa que abrigava um
Monza bonito na garagem,

Entre sorrisos de alegria e de tristeza,
Ela sabia chorar e rir ao mesmo tempo.
No choro, ela transbordava as mágoas,
O amor, os medos e os sonhos.

Sua fé era imensa e sem preconceitos.
Acreditava em Deus, nos espíritos,
Na vida após a morte,
E nos fantasmas que a assombravam.

Ela gostava de inovar,
Tinha planos e sonhos,
Tinha energia, esperança
E desesperança também.

Ela era mãe de cinco
E tia de muitos.
Irmã de treze
E avó de poucos.

Ela era especial,
Muito especial.
Ela era minha tia,
Tia Noêmia.

Entre muitas despedidas,
Poucos telefonemas,
Poucas fotos,
Ela sempre permaneceu presente.

Entre muitas despedidas,
Eu não tive a chance
De lhe dizer adeus.

 

FFC 19 agosto, 2010

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 3:53 am

Passa ano, entra ano e meu amor por ti é sempre o mesmo: grandioso!

Poder gritar e anunciar bem alto este amor apaixonado que existe entre nós desde sempre me faz feliz e completa.

A mim não importa a fase da lua ou se estás bem ou mal ou se prosperas ou perdes.
Não me importa em que tempo entres ou saias, caias ou te ergas.

A mim importa apenas tua soberania sobre meu peito que exibe as três cores do teu pavilhão.

Assim, juntos, somos um time de guerreiros, um time de campeões a caminho de conquistar o mundo!

 

Mãe 13 março, 2010

Filed under: Charneca,Rotineiras — INEFFABILE @ 12:40 pm

Linda.
Alegre.
Braba.
Charmosa.
Doida.
Atraente.
Engraçada.
Criativa.
Super-protetora.
Super-preocupada.
Estressada.
Impaciente.
Trabalhadora.
Esforçada.
Generosa.
Amiga.
Medrosa.
Companheira.
Inteligente.
Advogada.
Autoritária.
Carinhosa.
Doce.
Impulsiva.
Irascível.
Misteriosa.
Orgulhosa.
Transparente.
Perseverante.
Vitoriosa.
Escandalosa.
Responsável.
Maternal.
Especial.
Imprescindível.
Essencial.
Adorável.

Assim é a minha amada mãe.

 

Crônica das Peças Roubadas 15 julho, 2009

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 9:57 pm

Com complexo de princesa ela saiu de casa, esperando tomar o mundo feito champagne.

Foi ao cabeleireiro e ao contrário do que sucedeu com Sansão, cortou as suas madeixas como quem recebera uma injeção de ânimo.

Ela olhou para ele com um olhar inquisitivo. Ele a encarou de volta com o peito estufado. ‘Para um rapaz tão bem apessoado’ –  pensou a moça – ‘que desencanto’.

O dia seguiu adiante. Ao dobrar várias esquinas, percebeu que havia perdido o rumo. Foi quando sacou de sua bolsa o espelho portátil e ao mirar seus próprios olhos, lembrou-se do por quê que viera ao mundo. Alinhou-se com a sua meta final e fincou seus passos no calçadão de concreto com determinação.

Esqueceu-se do quê o oráculo lhe revelara. Distraiu-se com os passantes e com os seus aromas. Atravessou a rua e não sabendo que era impossível realizar tudo aquilo, ela foi lá e fez.

 

Lourrance 12 fevereiro, 2009

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 8:35 pm

Ela que chora quando acordada
E sorri quando dorme.
Para um serzinho tão pequenino,
Que existência enorme!

Ela que é pequena em tamanho
E tenra em idade.
Ela que já é grande,
A grande novidade!

Sob a égide do Capricónio ela veio
E revolucionou todos os astros!
Na vanguanda de nossas vidas
Ela será o nosso lastro!

Ela que tem meio meu sangue
E todo o meu coração.
Nela eu enxergo o meu passado
E o oráculo dos dias que virão.

Ela, a pequena-grande
É uma estrela ao nosso alcance.
Linda no céu resplandecente
Brilha a nossa Lourrance!

Que Deus a proteja e guarde.
Que ela cresça feliz e forte.
Que na seara da vida ela sempre encontre
Muito amor, paz e sorte!

 

12 de Fevereiro de 2009

 

R. 17 janeiro, 2009

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 12:13 pm

Noite a fora
Calor de um abraço
Frescor d’amor novo
Sexo sem cansaço


Janela aberta
Brisa que entra
Luz que desperta
Amor que esquenta


À luz do dia
Sentimentos escondidos
Sob olhares discretos


À luz da lua
Paixão sem medo
Corações abertos

 

in patientia 6 janeiro, 2009

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 10:57 am

Me falta paciência porque me falta ciência sobre o que fazer agora.

Tantas são as opções a escolher que chegam a me deixar confusa,
E sem clemência a inquietude abunda em minha alma
E estrangula o meu coração já tão dolorido e cansado de mágoas.

Mas que remédio há para a minha impaciência?

Eu queria que o passado representasse nada no meu presente,
E que o futuro fosse já.
O agora não acontece com a urgência do meu compasso.

Quisera que o tempo fosse submisso às minhas necessidades
E nunca o contrário.

 

Janeiro 2009

 

A Estrada Para Paris II 25 outubro, 2008

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 6:24 pm

Sol
Carro cheio
Pouco espaço
Uma soprano
Uma mezzo-soprano
Uma bióloga
Paisagem de outono
Folhas amarelas, laranjas e vermelhas
Música russa
Música flamenca
Tristeza
Alegria
Esperança
Gargalhadas



Assim foi a estrada para Paris. Uma jornada longa e feliz.

 

Agrura 2 setembro, 2008

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 9:25 pm

Às vezes eu me sinto tão intensa
Tão insuportavelmente intensa
Que somente o mar seria capaz de me conter
Que somente o ar não se cortaria com as minhas arestas
Que somente as tempestades seriam capazes de me compreender
Que somente a total escuridão poderia me acalmar

Mas é somente este corpo diminutamente frágil
Que é capaz de saber das agruras de uma vida
Tão sedenta por mais vida
E tão comprimida em tão pouco espaço

 

Brighton, 2 de Setembro de 2008.

 

A Minha Sina (E.) 22 julho, 2008

Filed under: Charneca — INEFFABILE @ 8:49 am

Era noite de baile e na mesa havia lugares reservados, porém ainda vazios. Para cada assento um número; para cada número uma sorte.

O cheiro do mar açoitava o ambiente através da brisa morna.
Era noite de lua crescente e a vontade de sentir também crescia.
No grande salão, sandálias de salto alto e sapatos bem engraxados refletiam-se no piso tão bem polido. Mas nem a música, nem o glamour das roupas daquela noite eram capazes de preencher aquele vazio lúgubre. Era um esperar sem fim por um acontecimento sem nome. Enquanto o tempo se esticava, as cadeiras da mesa permaneciam desocupadas. Elas aguardavam os seus donos; eu aguardava o meu destino.

Munidos de ternos brancos impecáveis, eles chegaram em um trio muito distinto, e prontamente tomaram posse do que lhes pertencia por direito. Subitamente, a maresia se encheu de outras fragrâncias e a lua brilhou como se cheia estivesse.
Nem a música, nem as pessoas glamurosas que dançavam no grande salão conseguiriam ser mais encantadoras do que o frescor exalado pelos nossos olhares. Foi quando, de maneira avassaladora e desapiedada, ele envolveu-me em seus encantos, e como prodigioso que era, fez cumprir a minha sina.

O baile acabou e o fim rendeu-se ao começo.

Segurando a minha mão, ele conduziu-me através da noite sem limites ou medida. A manhã despontou no horizonte enquanto o meu peito insaciável mendigava por mais.

Sem mais bailes ou glamour, a lua cresceu e minguou; ele veio e se foi muitas vezes.
Mais tarde descobri que ele era um dragão de fogo na pele de um cavaleiro alado. Eu, dragão de fogo que sou, deveria já ter desconfiado. Afinal,  não são de paixões desesperadas que alimentam-se os dragões?

Nos reencontramos, nos reapaixonamos, nos deixamos, nos esquecemos, nos relembramos, nos desejamos, nos negamos, nos queremos, nos abdicamos, nos parecemos.

Todo dragão tem uma sina e a minha sina é outro dragão.

Rio de Janeiro, maio de 2003.