Divagando Devagar

Divagações ocasionais de uma mente reflexiva.

Sobre a violência sexual – Não, é não. 28 maio, 2016

Filed under: Rotineiras,Tormentas — INEFFABILE @ 10:09 pm

Andava a concatenar pensamentos e palavras nos últimos dias para escrever um texto sobre violência sexual em meu blog. Queria escrever sobre o que senti e sinto a respeito desta tal “Cultura do Estupro”. Nem sabia que havia um nome para esta tragédia social. Queria escrever sobre o impacto que a notícia do estupro coletivo da menina de 16 anos, no Rio de Janeiro, deixou em mim.

Já vi que tem gente de saco cheio do assunto nas redes sociais. Tem gente mudando de assunto, continuando a reclamar da corrupção no Brasil, fingindo que nada aconteceu, discutindo futebol ou compartilhando memes para reflexão.

Eu parei no tempo. Permaneci na tristeza de dois dias atrás. Permaneci com o mesmo sentimento de derrota, de fraqueza mesmo, que senti ao ler a notícia.

A cada texto e compartilhamento sobre o assunto, meu sentimento é de cansaço e de absoluta repugnância. Às Vezes, a sençação é de perda. E a pergunta que não quer calar é: o que fazer?

Esse medo é velho; o medo da violência sexual.

Sabe quantas vezes eu desisti e tenho certeza de que ainda desistirei de noitadas, viagens e muitas outras atividades só porque estive ou estaria sozinha por aí?? Mas a real razão por trás destas minhas escolhas é simplesmente uma: sou mulher. E como disse James Brown: “This is a man’s world”. Complemento a letra de sua canção: este é um mundo dos homens, onde mulheres são violentadas independente de credo, raça, idade, ou condição física ou social, todos os dias.

Qual mulher não teme ser estuprada ou abusada sexualmente? Qual??? E vou além: qual mulher não sofreu algum tipo de abuso sexual na vida?

Eu sofri. Como exemplo, cito o dia em que um terapeuta holístico se sentiu no direito de tocar em partes íntimas de meu corpo durante uma sessão de realinhamento de chakras. Homem deplorável.

O caso da garota carioca me fez lembrar do estupro da moça indiana de 23 anos há cerca de quatros anos, em Nova Delhi, onde 6 homens a violentaram dentro de um ônibus. Poucos dias depois, a moça veio a falecer em decorrência dos ferimentos.

Lembrei também da outra moça indiana, de 28 anos de idade, que foi violentada dentro de um ônibus e morta por dois homens diante da filha de três anos.

Lembrei da menina de apenas três aninhos de idade que foi violentada em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Da amiga francesa que foi a Istambul e lá pegou um ônibus com uma colega de trabalho. As duas foram intimidadas e tocadas por vários homens nojentos, sem poderem fazer nada por medo de agressão pior.

Da amiga brasileira que foi passear no Irã e lá quase foi apedrejada por vestir uma bermuda que revelara seus tornozelos.

Da colega que foi estuprada na Bahia, que engravidou do estuprador, fez um aborto clandestino e quase morreu vítima de uma carnificina médica.

Da aluna de uma amiga que foi estuprada há cerca de um ano e que veio a cometer suicídio há poucos dias.

Lembrei também de minha mãe, assim como de todas as mãe que conheço, que nunca deixou meu irmão pequeno ir a um banheiro masculino sozinho. Meus filhos também não vão.

Minha mãe também não me deixava ir ao botequim na esquina perto de casa para comprar pão sozinha. Mesmo sendo criança na época, eu ainda me lembro, com profundo nojo e horror, sobre como me sentia envergonhada e intimidada pelos olhares dos homens que lá estavam. Eles pareciam analizar o meu corpo de menina.

E como lembrei de minha irmã que uma vez me disse muito segura de si: “prefiro morrer do que ser estuprada!”.

São tantas as lembranças! São muitos os casos que ocorreram comigo, com minhas amigas, conhecidas, conhecidos… São tantas as notícias nos jornais todos os dias… Parece ser algo tão comum!

E me ocorre dizer que, talvez esta tristeza chamada violência sexual seja uma pandemia mesmo. Mas não é uma doença; não, não é. É algo pior: é pura malevolência. É mal e mau d’alma.

Tem muita gente – homens e mulheres – que dizem que feminismo é ‘mimimi’. À estas pessoas o meu profundo desprezo, pois são altamente egoístas e ignorantes. São pessoas que vivem fora da realidade por escolha própria, além de saberem bulhufas de história.

Voltando à minha pergunta: o que fazer? Bem, eu não sei. Acho de importância imprescindivel discutir abertamente sobre o assunto, colocar pressão seja onde for! Se quase todo mundo tem Facebook ou faz parte de alguma rede social virtual, então que informações úteis possam circular através destes meios de comunicação.

Mas é nas ruas, gente, nas casas, nas escolas, nos trabalhos que a pressão contra esta atrocidade deve se fazer presente em todos os momentos e que venha a produzir resultados. Que criminosos e cúmplices sejam punidos, que vítimas tenham vozes e que a cultura do estupro, tão presente no globo terrestre, seja destruída de uma vez por todas!

Eu faço a minha parte aqui. Faça você também a sua, pela honra e dignidade de todas as vítimas de crimes sexuais de todos os sexos, idades e nacionalidades.

Não, é não.

 

Sobre o suicídio 1 maio, 2016

Filed under: Reflexão da Semana,Rotineiras,Tormentas — INEFFABILE @ 8:32 pm
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Após receber a triste notícia ontem sobre o falecimento de uma amiga que não via fazia mais ou menos um ano, passei o dia de hoje refletindo sobre um assunto que é tabu: o suicídio.

Nos últimos 4 anos, foram três os amigos que tomaram a decisão de encurtar suas vidas. A cada partida, um choque imenso para quem ficou para trás.

Por mais que seja difícil, ou até, impossível, compreender o que passa na cabeça de uma pessoa momentos antes do ato do suicídio, só posso imaginar que a dor e o desespero do suicida sejam tão profundos, que viver torna-se absolutamente insuportável.

Sei que este assunto é altamente complexo, até porque, cada pessoa é um universo único, onde os caminhos sinuosos e confusos da mente e do coração se cortam, se cruzam, se entrelaçam, se abrem e se fecham. Da bioquímica do corpo humano às experiências vividas por cada um de nós, não há nada 100% sabido, muito menos garantido. Quando a gente menos espera, vem a notícia…

Meus três amigos eram pessoas alegres e cheias de vida! Como esperar?! Poderia eu ou alguém tê-los ajudado? Poderia algo ter sido feito para evitar tais tragédias?

A Guiana, país vizinho ao Brasil, possui o maior índice de suicídio do mundo. Neste ranking triste, figuram países muito pobres e muito ricos. A Organização Mundial de Saúde considera o suicídio uma pandemia, já que houve um aumento de 60% de casos nos últimos 45 anos.

Enfim, como disse, é um assunto muito triste e, por isso mesmo, percebo que seja uma espécie de tabu. Porém, se há algo que possa ser feito para ajudar as pessoas que consideram tirar a própria vida, seja por qual motivo for, creio que o primeiro passo seja conversar abertamente sobre esta questão.

 

Sobre minha (falta de) fé na humanidade 19 julho, 2014

Filed under: Reflexão da Semana,Rotineiras,Tormentas — INEFFABILE @ 10:35 am

Por que evito ler as notícias?

Bem, porque cada vez que leio os jornais, perco mais um pouquinho da fé que tenho na humanidade. Por mais que ame este mundo e deseje contribuir para deixá-lo melhor e mais bonito, sinto que minha força é inversamente proporcional ao barbarismo que impera.

Não compreendo a necessidade de ‘abater’ uma aeronave (com um míssil de bateria antiaérea) com 298 passageiros civis (homens, mulheres e crianças).

Não compreendo a necessidade de sustentar o conflito entre Palestina e Israel, que já matou mais de 300 pessoas só em Gaza desde o último sábado.

Se o ser humano tem tão pouco apreço, zelo e respeito pela própria espécie, o que esperar de seu real esforço para cuidar dos seres não humanos?

Olha, hoje me bateu um desânimo…

Já havia deixado de crer em Deus, mas deixar de acreditar na humanidade é um prospecto desolador.

 

Jornada de quase um ano 4 dezembro, 2013

Filed under: Meu Querido Blog...,Tormentas — INEFFABILE @ 2:48 pm

Faz mais de um ano que não escrevo no meu blog e confesso que senti muita falta dos momentos em que criei espaço e tempo no meu dia-a-da para divagar devagar.
Transferir o que rola em minha mente para o blog, sempre me dá um sentimento de satisfação pessoal. Talvez porque a escrita ajude a consolidar minhas visões e sentimentos sobre uma série de temas e acontecimentos, me ajudando a concatenar fatos e me expressar de maneira mais clara, pelo menos para mim mesma.

Durante todo esse tempo que não escrevi, imaginei textos e mais textos que gostaria de ter escrito. Os escrevi, porém, em minha mente. Que grande pena que boa memória nunca tenha sido uma de minhas virtudes! Meus textos mentais se perderam em algum lugar da mesma matriz em que eles foram criados. Só posso dizer que, durante o último ano vivi muito, pensei muito, refleti muito. Foram muitos os acontecimentos que sucederam em minha vida; uns muito bons e outros ruins. Muitos foram marcantes, verdadeiros ‘divisores de águas’.

Em dezembro do ano passado perdi um amigo querido para um trágico acidente de carro. Sua perda foi um grande choque, não só para mim, mas para meu marido também. Aprendi que receber a notícia sobre a perda de um ente querido é algo que a gente nunca esquece. Minha reação imediata foi um choro convulsionado, do tipo que ainda não conhecia. Me fascina o fato de não saber tudo sobre mim mesma, especialmente sobre minhas reações. Os acontecimentos que se desenrolaram nos dias seguintes trouxeram ainda mais perdas e, de repente, o mundo tal como o conhecia, se acabou, fazendo a profecia sobre o fim do mundo em dezembro de 2012 bem real para mim.

Natal e ano novo.
Comecei o novo ano com pesar n’alma. Uma tristeza que só era amenizada durante os momentos em que estava com meu filho e meu marido. Essa tristeza às vezes era acompanhada por medo; medo de morrer, medo da morte; medo de perder alguém amado. Eu e meu marido chegamos a escrever nossos testamentos, onde a parte mais difícil e dolorosa foi a que diz respeito ao nosso filho, Ícaro, e quem seriam seus guardiões. Percebi que não existe no mundo ninguém mais capaz e adequado para cuidar dele do que meu marido e eu. Passei a desejar que a vida fosse generosa o suficiente para sempre deixar um de nós presente fisicamente na vida de nosso filhote.

Descofiando da vida e perdendo a fé.
Uma das afirmações que sempre gostei de usar no meu dia-a-dia é “Eu Confio Na Vida“. Por mais que repetisse para mim mesma esta afirmação várias vezes ao dia, o pensamento senguinte sempre era de dúvida; “e se acontecer isto ou aquilo?”. Tanto medo e desconfiança geraram uma sensação contínua de inseguranças e incertezas.

Ainda em janeiro, recebi a notícia sobre o falecimento da minha vó. Não falava com ela há mais de dois anos por conta de um grande desentendimento familiar. Mantive o meu afastamento de forma muito consciente, sem fingir que ela não existia, mas ao contrário, sabia que minha decisão a havia magoado muito. Por outro lado, me sentia em paz com minha escolha e pressentia que ela morreria sem que tivéssemos feito as pazes. Pressentido e feito. O fato é que senti mais pesar pela morte de meu amigo do que pela morte de minha avó, com quem convivi muito mais tempo e de quem tenho ainda boas lembranças, embora tenha também lembranças ruins relacionadas a ela.

Paranóia?
Meus medos e inseguranças passaram a ser tão frequentes que em muitos momentos beirei à paranóia. Como alento, chegou a Páscoa, e com ela a transição do inverno para a primavera. Eu e minha família aproveitamos as férias de duas semanas para viajar de carro pela Grã-Bretanha. Nos primeiros dias de viagem, não conseguia parar de pensar em acidentes de carro. Que pesadêlo vivi acordada. A cada freiada, meu coração disparava.

Culpa.
Me sentia culpada cada vez que não tinha capacidade de apreciar as coisas belas que estava vivenciando durante aquelas férias fantásticas. Quando finalmente chegamos à Escócia, foi que fui tomada por alegria novamente. A núvem negra que havia nublado a minha luz interior finalmente começou a se disperçar. Como me senti grata por poder apreciar tantas paisagens belas, rever amigos queridos no caminho e testemunhar o vigor da vida
selvagem nas florestas, no céu e no mar! Meu pesar deu lugar a graça novamente.

Terapia, mudança de paradigma e mudança de crença.
Voltamos de nossa viagem epopéica e meu foco passou a ser trazer mais positividade para a minha vida e, sobretudo, manter a positividade readquirida. Comecei sessões de psicoterapia, nas quais tive a oportunidade de discutir os acontecimentos dos últimos meses e como me sentia. Chorei muito de novo, mas a cada sessão me senti mais leve. É como se vomitasse pensamentos e sentimentos intoxicantes. Entendi que uma das maiores perdas que havia sofrido não havia sido a perda de meu amigo ou de minha vó, mas da minha fé em Deus. Na verdade, eu perdi a fé e ponto. Passei a duvidar da existência de vida após a morte e que tudo na vida acontece por uma razão.

Perdendo Deus e me achando.
Um dia me deparei com a notícia de que mais uma criança, desta vez parente de um amigo, havia morrido em decorrência de uma leucemia, que o debilitou por mais de um ano e finalmente tirou sua vida. Aquela notícia, assim como muitas outras que vieram ao meu conhecimento na mesma época, só aumentaram a minha certeza de que Deus não existe. Me questionei: se tudo tem uma razão para ser, então, por qual razão na face da terra aquela criancinha de dois anos havia padecido? Como pode Deus ser justo, quando expõe tantas pessoas aos maiores sofrimentos possíveis, imagináveis e inimagináveis? Se Deus é omnipotente, por que então não usa seu poder para o bem? Por que Deus tem que manchar a vida das pessoas com sofrimento e pesar?
Me questiono sobre tudo isso e muito mais. Quando perdi minha fé e crença em Deus, me senti livre o suficiente para crer mais em mim. Passei a crer mais na vida e no meu poder de criação do que no destino. Entendi também que coisas ruins acontecem às pessoas boas e este fato é assim simplesmente porque é, e não porque há uma razão para ser.
As fundações das crenças que alicerçavam toda a minha vida foram, em pouco tempo, derrubadas. Me senti como se tivesse perdido o chão sob meus pés, mas consegui construir um modo de encarar a vida diferente, confiando mais do que nunca na vida e no universo, não por alguma razão mística ou religiosa, mas porque há uma força vital tão incrivelmente poderosa na natureza, que, aconteça no mundo o que acontecer, este poder sempre fará com que a vida prevaleça sobre quaisquer intempéries. Me sinto mais conectada à Terra e ao momento presente do que jamais estive.
No meio de um turbilhão, me achei.

Mais mudanças e mais vida.
No dia 5 de maio descobri estar grávida do meu segundo filho. Agora já estou perto de parir e sei que darei á luz um menino chamado Tavin. A minha gravidez só me ajuda a manter minha positividade, embora tenha me tornado mil vezes mais sensível e sentimental. A jornada desta gravidez será tema de outro texto aqui no blog (espero que em breve).

Em poucos dias, a morte do meu amigo estará completando um ano. Ainda penso neste fato com dificuldade de crer nele. É difícil crer que ele se foi, que sua família se mudou para longe, que eles fazem parte da minha vida e de minha família de maneira tão diferente. Sinto muitas saudades de todos eles…

Refletir sobre todos os eventos transcorridos durante o ano que sucedeu a morte de meu amigo e relatá-los aqui no blog, me fez reviver um pouco a jornada percorrida até aqui, jornada esta em que houve muitas perdas, mas também achados incríveis!

 

Vida de Sofredora 3 novembro, 2009

Filed under: Tormentas — INEFFABILE @ 6:45 pm

Entra ano e sai ano, o meu sofrimento tem um nome: FLUMINENSE FUTEBOL CLUBE. Não se torce por este time, se sofre! E como sofro!!!

Ano passado me despenquei daqui da Inglaterra para assistir a final da Libertadores no Rio. Despenquei mesmo! Da cadeira, da razão e caí de cara na incredulidade. Eu acreditei que levaríamos aquela taça inédita para o salão de troféus da casa das Laranjeiras. Mas, infelizmente, a imprecisão dos jogadores de então foi maior do que a habilidade de vencer. Os sofredores do Flu assistiram incrédulos e desesperados a decisão daquela final nos pênaltis! No dia seguinte ainda tivemos que engolir os abusos dos urubus, que são de praxe, claro. Quanta humilhação! Nós, os sofredores do FFC, despencamos do céu para cairmos bem no centro do inferno futebolístico. Diga-se de passagem: MAIS UMA VEZ!

Depois da Libertadores, eu perdi o gosto de escrever sobre o Fluminense e sobre futebol em geral. Me desliguei do Brasileirão, esqueci do Premiership, afinal, nenhum dos times que elegi como ‘meus’ se saíram bem em 2008. Muito menos estão se destacando em 2009. Justiça seja feita: o Flu está se destacando em 2009, mas pelo motivo errado.

Fluminense: um dos piores times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro! Dói, mas é veríssimo!

Quisera que o Flu tivesse a garra do Timão, que saiu da série B com o título da vitória sem precisar da ajuda de ninguém. Para mim, o futebol Paulista é a elite do futebol brasileiro, ao lado de alguns times do sul.

Mais uma vez o Fluminense está valorizando mais um título internacional do que o de casa, enquanto o que eu mais queria de verdade seria gritar para o mundo ouvir: O MELHOR DO BRASIL! Duro vai ser agüentar os rubro-negros, caso eles levem o título este ano. Possibilidade não tão remota assim… Ninguém vai merecer!!!

Agora estamos nesta verdadeira bandalheira: no âmbito nacional, estamos na zona da degola faz mais de um mês; na Copa Sul-Americana, estamos nas quartas-de-final, à um preço imensurável, que deveria ser impagável!

Olha, tem gente que vira casaca como quem troca de moda. O pior é que nem morrendo e nascendo de novo eu vou conseguir me livrar desse timeco que eu amo (e odeio!).

 

Gripe Suína 28 julho, 2009

Filed under: Rotineiras,Tormentas — INEFFABILE @ 12:18 pm

Garganta inflamada.
Moleza.
Dor muscular.
Dor nas articulações.
Dor de cabeça.
Febre.
Tosse seca.
Cansaço.
Fraqueza.
Falta de ar.

Agora faço parte ‘da pandemia’: peguei a tal da gripe suína.

Imaginava que a tal gripe fosse avassaladora. Mas na verdade é apenas como qualquer gripe, que vai pegar a pessoa de jeito ou não dependendo das condições físicas dela. No meu caso, o remédio – Tamiflu – está me fazendo mais mal do que a gripe propriamente dita.

Ninguém quer me ver. Me dispensaram do trabalho após fazerem um alvoroço sobre o meu estado de saúde. Tudo foi tratado através do telefone: eu no segundo andar, o responsável pela pesquisa no primeiro.

Estou confinada, junto com o meu namorado, em um quarto do apartamento. Ninguém quer sequer conversar conosco, a não ser usando máscaras.

É uma realidade estranha, que não me abala muito porque sei como os vírus funcionam e se multiplicam, especialmente os da influenza.

5 dias sem sair de casa: tempo que o tratamento com o Tamiflu dura.

Após 5 dias farei parte da estatística dos sobreviventes à gripe suína…

 

Doutorado 25 junho, 2009

Filed under: Confissões,Tormentas — INEFFABILE @ 12:29 pm

Acho que só quem cursa ou cursou um doutorado sabe da dificuldade que é encontrar aquela informação, aquele método ou aquele aspecto da pesquisa que está faltando no mundo da Ciência, e que só cabe ao doutorando encontrar.

Eureka!

Como eu gostaria de encontrar aquela peça do quebra-cabeças que falta.

Me arrastando através do terceiro ano do meu curso de doutorado, me encontro naquele beco sem saída onde tudo o que eu queria era poder dar meia volta e esquecer que um dia caminhei aquele caminho.

O título de doutor não me anima, a não ser pelo fato d’eu saber que no futuro ele me abriria portas e permitiria realizar o que eu achava ser o meu sonho profissional: ser professora universitária. Mas será que é isso mesmo o que eu quero? Não sei, não sei mais…

‘Becos sem saída’ proporcionam, dentre outras experiências, um questionamento profundo. Há meses me pergunto ‘que diabos estou fazendo aqui?’. O pior é que entrei nessa por espontânea vontade, mas, a verdade é que achei que a rua tinha saída. Ao invés de encontrar no caminho obstáculos transponíveis, me deparei com um muro bem alto, tão alto no momento que parece ser impossível de ser escalado. Em letras garrafais o grafite no muro diz “Decifra-Me ou Devoro-Te”.

Com todas estas metáforas eu só quero dizer que este doutorado está me custando muito. Me custa o sono sagrado de todas as noites, a alegria que eu raramente mostro, a paz que eu não tenho e a auto-confiança que um dia tive.

‘Será que eu tenho cérebro o suficiente para terminar?’

Há umas semanas eu desisti do curso entre taças de vinho e lágrimas. Uma hora depois decidi que continuaria. Momentos como aquele se repetiram nas semanas seguintes, mas enquanto eu não decido o que é melhor para mim, prefiro continuar no mesmo lugar arquitetando uma forma de subir o tal muro e descer do outro lado.

Eu conversei com tantos doutorandos e doutores à esse respeito e todos foram unânimes em dizer que passaram pela mesma fase. Aparentemente é uma fase. O bom das fases é que elas passam e são sucedidas por outras fases.

 

Mulher de Fases 19 maio, 2008

Filed under: Tormentas — INEFFABILE @ 3:00 pm

Não há nada pior do que TPM.

Racionalmente falando, eu entendo que a assertiva acima não é verdadeira, pois de fato, há muitas situações na vida que superam todos os lados negativos de uma “simples” tensão pré-menstrual.

É importante elucidar, porém, que algumas das situações desagradáveis que acontecem na vida se originam de uma TPM: da minha, da sua ou da dela.

O pior é que se alguém perguntar ingenuamente “tá com TPM?”, a resposta provavelmente soará como um trovão e o estrago será equivalente ao deixado por uma forte tempestade, com direito a furacões ocasionais e tudo mais.

Muitas mulheres – arrisco a dizer até a maioria – não sabem que sofrem de TPM. As oscilações de humor ocorrem impreterivelmente todos os meses, junto com dores e vários outros incômodos físicos, mentais e emocionais. Mas ainda assim, da mesma maneira como essas mudanças vêm, elas vão, e por isso elas não são levadas a sério.

Para grande parte da mulherada, existem apenas duas formas de viver: como escrava da TPM ou como escrava dos contraceptivos hormonais. Em ambas as opções, os hormônios funcionam como agentes controladores da fertilidade feminina, mas não se limitam apenas a isso. Eles também controlam a capacidade da mulher se socializar e de dicernir entre coisas óbvias. O contraceptivo hormonal normalmente controla os piores sintomas da TPM, tipo cólicas e mudanças de humor, e por isso é recomendado como “remédio” amenizador desse mal. Por outro lado, ele causa uma série de outros problemas, e na pior das hipóteses, ele pode causar câncer de fígado e de mama. Embora a TPM seja um conjuto de sintomas causado por um ciclo natural, ela também pode destruir vidas, mesmo que não seja por via das doenças terminais.

Hoje a minha própria TPM me inspirou a escrever.

A lua está cheia, meu ritmo físico mudou e estou em busca de qualquer pequeno detalhe que me faça gritar, chorar ou brigar.

O fundo do poço não é mais um lugar estranho para mim, porque em dias como o de hoje, ele é o mundo todo e não importa onde vá ou o que faça, o meu pé estará bem enfiado na lama.

Mas nem tudo está perdido. Nem tudo é ruim. Eu sei que daqui a uns dias, tudo será diferente e valerá a pena de novo. Da mesma forma como eu entrei aqui, eu sairei, revigorada e radiante! Para um novo dia, para uma nova fase da lua.

Só não me pergunte se eu estou com TPM ou se está tudo bem comigo, por favor. E me perdoe antecipadamente se eu te der uma resposta meio “torta”.

 

Torcer = Sofrer 1 maio, 2008

Filed under: Tormentas — INEFFABILE @ 10:48 am

Quem gosta de futebol e torce por um time, conhece paixão, euforia, rivalidade e o fundo do poço.

No Brasil o meu time é o Fluminense, aqui na Inglaterra, é o Liverpool.

Há quase duas semanas, o meu Flu perdeu a final da Taça Rio para o Botafogo. Thiago Neves – um dos meus jogadores favoritos do momento, bateu um pênalti e acertou a trave. Uma dor visceral incrível para todo torcedor! Por mais irritante que seja ouvir ‘quem não faz, leva’, naquele dia tive que engolir a dita frase à seco.

Acompanhei o jogo pela internet, através da Rádio Globo do Rio de Janeiro online. Entre uma locução entrecortada e quedas de conexão, passei mais de 90 minutos sentada em frente ao meu computador, sofrendo com a dependência da narrativa dos comentaristas. No fim do suplício, só restou mesmo tristeza e frustração por não ter conseguido chegar à decisão do Estadual do Rio. O negócio agora é manter a fé em alta para encarar as oitavas da Libertadores e o início do Brasileirão em 10 dias.

Que vença o Flu e que NUNCA ganhe o Fla!

Ontem foi a vez de sofrer pelo Liverpool. Foi o segundo jogo da semi-final da Liga dos Campeões contra o Chelsea, que foi nosso ‘freguês’ nas últimas quatro temporadas. No primeiro jogo, no Anfield semana passada, conseguimos realizar a façanha de marcar um gol-contra aos 50 minutos do segundo tempo. Ninguém merecia aquilo…
Foi como uma banho de água gelada no meu entusiasmo. Mas como a esperança é sempre a última a sair de campo, eu esperava que ontem fôssemos nos recuperar na casa do oponente – tarefa sempre difícil, mas possível.

Assisti o jogo em casa com meu amigo Mark. O Tom estava preso no aeroporto de Málaga e após um dia difícil de trabalho lá, tudo o que ele mais queria era voltar para casa para assistir o jogo conosco. Mas o vôo estava muito atrasado e ele iria passar passar todo o tempo da partida no ar. Ele soava moribundo ao telefone…

Início do primeiro tempo. Desde os primeiros minutos, o Chelsea já mostrava superioridade, menos erros de passe e boas finalizações. O clima tenso no campo se estendeu até a minha sala. Como bons técnicos de futebol, eu e Mark discutimos as mudanças que seriam necessárias para melhorar o desempenho do Liver. Entre goles de cerveja, xingamentos variados e ondas de nervosismo, vimos o Chelsea marcar um golaço no primeiro tempo e a torcida do Liverpool se calar.

Segundo tempo. Conforme a situação do Liver ficava mais difícil, o sotaque liverpooliano do Mark piorava. Os palavrões se abundavam em nossas bocas e gritávamos de agonia, até que alguém tocou a campainha. Era Martina, a namorada do Mark, que havia chegado e com ela o primeiro gol do Liver! Gritamos e pulamos de alegria e corremos para abraçar o nosso ‘amuleto da sorte’!

Mas faltava ainda mais um gol para chegarmos à final da Liga dos Campeões em Moscou e as mudanças que o técnico Rafael Benitez fez não foram as mudaças que eu e Mark pedimos. Nós queríamos Crouch no lugar de Alonso e não Pennant no lugar de Benayoun.  Queríamos 4-3-3 e não 4-4-2!

Chegou a prorrogação (do sofrimento) e o nosso time entrou em campo sem o meu amor espanhol – Fernando Torres. Onde o Rafael estava com a cabeça quando o substituiu por Babel? Não era isso que havíamos pedido, Rafa! Como vencer uma partida com apenas um artilheiro e o resto do time esgotado? Rafael, Torres é o melhor jogador do Liver (além de ser lindo de morrer!). Aquilo desceu com dificuldade em nossas gargantas. Tivemos que ver um time nervoso cometer um pênalti sobre Lampard, que marcou um gol em homenagem à sua mãe que faleceu no final de semana passado. Minutos depois, o árbitro fingiu que não viu um pênalti sobre Hyypia – árbitro de futebol é uma mala sem alça mesmo. Ainda mais quando comete um erro grave em uma decisão. Se um dia tiver um filho, ele ou ela poderá ser tudo, menos traficante de qualquer coisa e árbitro de qualquer esporte.

Pedimos para Martina sair, voltar, sair, voltar, mas de nada adiantou. Com um outro golaço, Didier Drogba selou a classificação do Chelsea para a final da Liga. Faltando uns 3 minutos para o final do jogo, Babel marcou um segundo gol para o Liver, mas já era tarde demais. O jogo acabou e eu escrevi uma mensagem para o celular do Tom dizendo: – WE FUNCKIN’ LOST.